William Kariston da Silva Batista – Psicólogo – CRP 08/30295
Não é fácil falar sobre a saudade de um ente querido, é um tema que mexe muito com a gente, é emocionante, é forte, mas muito mais difícil é viver isso na própria pele.
Já passei por várias perdas de pessoas queridas na minha vida, de pessoas especiais que deixam muita saudade. Mesmo no seu jeito simples, no seu jeito silencioso ou num jeito mais firme, com palavras mais diretas, mas todos deixam muita saudade.
Mas, por mais que a saudade aperte, por mais que seja difícil lidar com tudo isso, é preciso ter coragem para enfrentar a saudade.
Vamos imaginar que você tenha um amigo muito especial que more num país de fora, em Portugal, por exemplo. E você descobre que esse amigo virá para a sua cidade neste mês de Novembro. O que você faria? Não seria maravilhoso reencontrar esse amigo?
Finados é este momento. Momento de reencontrar, nas limitações físicas, a pessoa especial que partiu. Reencontrar, revisitar, relembrar os momentos lindos que vivemos juntos, chorar a saudade, trazer para o coração todo o afeto que temos por essa pessoa, colocarmos pra fora o quanto ela nos faz falta e o como gostaríamos de ainda ter essa pessoa por perto.
Lidar com tudo isso exige muita coragem. Coragem para enfrentar a saudade, coragem para enfrentar a morte, coragem para enfrentar a vida. Porque “quem vive bem a vida, vive bem também a morte”, “quem vive bem, morre bem”.
É costume hoje em dia ver pais evitando levar os filhos em velórios e em cemitérios sob a justificativa de esses não serem ambientes para as crianças. É costume ver até adultos não dando mais o devido valor a morte.
Mas uma coisa é importante: quanto mais fugimos dessa realidade, mais fugimos da verdade. Quanto mais fugimos da morte, mais fugimos da vida. Quanto mais privamos as crianças e nos privamos de encarar este fato, mais estamos tentando apagar um ponto essencial da vida: que ela tem fim. E é porque ela tem fim que tenho uma necessidade maior de vivê-la ainda melhor hoje, de valorizar as pessoas especiais ao meu lado, de levar os propósitos a sério, de viver uma vida com sentido.
Neste mês especial, neste dia de Finados, encare a saudade, encare a vida, entre em contato com tudo o que normalmente evitamos no automático do dia a dia, da rotina.
Tenho certeza que se você e eu enfretarmos mais e melhor a saudade de pessoas especiais que se foram, com certeza cada vez mais nós mesmos nos tornaremos pessoas especiais para aqueles que estão ao nosso lado.
Não vejamos a morte como uma opção de “jogar mais pra frente”, mas sim como uma realidade que dá sentido a própria vida.
E não se esqueça: caso for muito difícil enfrentar tudo isso sozinho, não precisa ir sozinho, você pode nos procurar. Os profissionais de saúde, em especial nós psicólogos, estamos à disposição para te ajudar a viver uma vida inteira, sem ignorar o “e depois?”.