Pesquisadores do Departamento de Clínica Cirúrgica do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UEL desenvolveram uma metodologia de prototipagem que pode reduzir os custos de cirurgias neurológicas de implante de próteses cranianas. Essas cirurgias, denominadas de craniectomia descompressiva, são bastante comuns no Sistema Único de Saúde (SUS), indicadas para o tratamento da hipertensão intracraniana em situações graves de traumas cranioencefálicos. As técnicas mais comuns utilizadas pelos neurocirurgiões incluem retirar e conservar o pedaço do crânio para implante posterior ou reconstruir a calota craniana com próteses de PMMA (acrílico usado em várias aplicações médicas) customizadas por prototipagem.

No mês passado, os pesquisadores do CCS conseguiram fazer um protótipo e implantar na cabeça de dois pacientes, com bons resultados. A técnica é importante para reconstruir a área lesionada, que muitas vezes traz uma aparência incômoda, como se o paciente ficasse sem parte do crânio, após se recuperar do edema cerebral. O Traumatismo Craniano Encefálico afeta cerca de 73 indivíduos por 100 mil habitantes/ano, o que resulta em aproximadamente 5,48 milhões de casos por ano, configurando um problema de saúde pública com impactos socioeconômicos.

Cirurgiões utilizam filamentos plásticos (PLS ou ABS) de impressoras 3D para fazer o molde. Por fim a cobertura é feita em PMMA (Fotos: Pedro Livoratti/Agência UEL).

O professor de neurocirurgia do Departamento de Clínica Cirúrgica do CCS Adriano Antonucci explica que a redução dos valores foi possível com o domínio da técnica de prototipagem, permitindo confeccionar a prótese a partir da imagem da falha craniana. Para entender melhor a técnica, os médicos usam um molde como se fosse para fazer uma das partes de um ovo de páscoa. Depois de preencher o molde com o PMMA, a prótese (forma negativa) é encaixada e afixada no crânio do paciente.

O processo tem de ser feito de forma detalhada, meticulosa para ter encaixe perfeito e devolver a aparência da cabeça do paciente. “Nós fazemos o processo de reconstituição com alta precisão de forma que a parte do crânio implantada tenha todas as dimensões”, explica. Com a forma negativa projetada, os cirurgiões utilizam filamentos plásticos (PLS ou ABS) utilizados em impressoras 3D para fazer o molde. Por fim a cobertura é feita em PMMA. A partir daí a forma é esterilizada. Essa parte do processo exige cuidado para não deformar o molde, já que a temperatura não pode passar dos 110ºC.

De acordo com o médico, a colocação é outra etapa que demanda cautela. Nos dois implantes realizados mês passado a equipe utilizou cera de osso em toda a superfície do molde, garantindo a fixação perfeita da prótese. Ele ressalta que em todo o processo foi utilizado material de primeira qualidade, como em todas as cirurgias de craniectomia descompressiva. O que garantiu a redução de custos foi o fato de a equipe dominar a técnica de prototipagem, que muitas vezes é feita por profissionais da área de design gráfico, aumentando os valores dos procedimentos.

Impacto financeiro

Ele estima que o custo do material em cada procedimento chegou a R$ 1 mil, bem diferente de valores que podem ultrapassar os R$ 30 mil, no caso do paciente ter de custear a cirurgia. Obviamente, esses valores não consideram a mão de obra da equipe cirúrgica. De qualquer forma, o domínio da técnica de prototipagem pelos médicos pode trazer benefícios para pacientes do SUS, que aguardam cirurgias de craniectomia descompressiva.

Segundo o doutor Adriano Antonucci, somente no Hospital Universitário (HU) da UEL existe uma fila de cerca de 20 pacientes. Ele estima que em Londrina, referência para esse tipo de cirurgia, cerca de 50 pacientes necessitem de próteses para melhorar a qualidade de vida. O médico salienta que, além do efeito estético, que devolve ao paciente a aparência como antes da lesão, essas cirurgias são importantes para proteção e para controle da pressão interna e externa do cérebro.

Professor Adriano Antonucci explica que a redução dos valores foi possível com o domínio da técnica de prototipagem, permitindo confeccionar a prótese a partir da imagem da falha craniana.

O desenvolvimento da técnica de prototipagem craniana envolveu uma equipe de professores, estudantes, residentes e estudantes de pós-graduação do curso de Medicina da UEL e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Londrina, por meio de projeto de pesquisa junto ao Departamento de Clínica Cirúrgica do CCS.

Integram a equipe, além do professor Adriano, os professores Márcio Francisco Lehmann (Departamento de Clínica Cirúrgica), Ana Lucia Cruz Furstenberger Lehmann (Departamento de Clínica Médica), Andrea Name Colado (Departamento de Patologia, Análises Clínicas e Toxicológicas) e Carlos Sanches Vaz (Departamento de Clínica Cirúrgica). Também participam do projeto os estudantes Thais Kobayashi Batista, Aramis Kessler Agostini, Dalmo Guilherme Correia, Lutero Kleuber Moraes, Marcos Zaloti Neto, Matheus Donadon, Murilo Scapin e Thomas de Oliveira Tomaszewski.

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