Está de parabéns o Senado da República em haver criminalizado tanto o usuário, quanto o traficante de drogas. Entretanto, delegar à polícia brasileira o encargo de identificar se o flagrado com drogas é usuário ou traficante já é uma incumbência lamentável. Inclusive, essa especialização não faz parte da formação de nossos policiais. Respondendo com eficiência pela ordem pública e a segurança dos cidadãos, eles já cumprem com responsabilidade a vertente de encargos profissionais que lhes são devidos.
De repente, fiquei imaginando a abordagem dos policiais à multidão de irmãos nossos que são inquilinos da cracolândia:
-Vai,
cara, você usa ou vende drogas ? Não minta que é pior. O seu caso é de uso ou é de tráfico ?
Em nome da legítima defesa, a tendência do dependente químico flagrado é o de confessar – se usuário.
A verdade é que o uso medicinal de drogas, a exemplo da propalada canabis , deve ficar restrita aos pesquisadores, cientistas, à ciência médica.
Pais e filhos sabem que sem uma postura firme contra as drogas, é muito fácil delas tornar- se escravo. Quantas vezes, pessoas bem intencionadas e com sólida formação religiosa, mesmo atuando em casas de recuperação, levam dribles absolutamente inesperados da parte dos usuários. Sou testemunha de ocorrências de zelo extremo de um sacerdote e o de um pastor evangélico ante a falta de vagas nas respectivas casas de recuperação. De sua parte, o padre acolheu na casa paroquial determinado usuário. Mais que depressa, o dependente de drogas descobriu ervas plantadas no alto do terraço da casa paroquial, de onde se descortinava uma visão belíssima da cidade e não teve dúvidas: plantou maconha em meio ao verde pré- existente…
Quanto ao pastor evangélico, o próprio lar foi o destino viabilizado a um adolescente usuário que, em pouco tempo, iniciou o filho caçula do religioso a iniciar- se no deprimente mundo das drogas.
Senadores, não existe o usuário com garantia permanente de uso moderado de drogas. Assim como o tabaco e o alcoolismo implicam em doses cada vez maiores, os usuários de drogas tornam-se literalmente escravos do vício. Na falta de dinheiro para comprar drogas, frequentemente vendem até os utensílios domésticos. Da parte do traficante, a lei é clara: não se exige cheque pré-datado na maldita comercialização. Ou o usuário paga o que deve ou ele é simplesmente assassinado. É ingenuidade supor que o usuário não seja traficante também, até mesmo como forma de manter o próprio vício.
Em nome de um futuro melhor para os nossos descendentes é necessário que sejamos radicais quanto à não- proliferação das drogas. Elas são capazes de destruir não somente o futuro de nossos filhos e filhas como também, numa escala maior, até mesmo uma civilização.

Tadeu França
professor universitário e
ex- deputado federal constituinte.